quinta-feira, 23 de agosto de 2012

GLOSSÁRIO: AÇÕES PERFORMÁTICAS E ACONTECIMENTOS (HAPPENINGS).
Todos os eventosocorridos depois da década de 1960, fossem ações teatralizadas ou não, denominamos de Acontecimento(s) (Happening’s), para diferenciá-las dos eventos teatralizados ou não ocorridos desde o começo do século XX, que denominaremos de Ações Performáticas.
 
 
Os Acontecimentos que narraremos a seguir se caracterizaram com a formação espontânea do evento, teatralizado, ou não, gerado através de atos realizados em público por artistas ditos, performáticos, apresentados sem julgamento crítico de valor ou mérito. Declarou LUCIE-SMITH (1977: 391), que o(s) Acontecimentos (Happening’s) mostrados no palco ou nas galerias de arte por artistas de vanguarda, poderiam ser a tentativa de popularização da arte.

 
O(s) Acontecimentos não marcaram um único movimento ou um único estilo, antes permaneceram como fenômeno conectado à grande número de movimentos artísticos. Em alguns aspectos o Happening pode ser considerado como a releitura do dito, Primeiro Modernismo [Early Modernism] ocorrido antes e durante a I Guerra Mundial com o Grupo dos Futuristas italianos e russos (v.); com os artistas do Cabaré Voltaire (Zurique, 1916-1919: v.), ou seja, o Grupo dos Dadaístas (Zurique, Berlim, Colônia; 1918-1921; v.); e depois, com os futuros artistas e escritores que participaram do Grupo do Surrealismo (Paris, 1920-1923: v.)

Foram os artistas da Faculdade da Montanha Negra (BMC - Black Mountain College) que iniciaram os primeiros  Acontecimentos [Happenings] na América, com a ação, dita, Evento Teatral [Theater Event], organizada por John Cage com a participação de Merce Cunningham, Charles Olson, Robert Rauschenberg e Cy Twombly (BMC - NC, 1952). As pinturas totalmente brancas sobre tela de R. Rauschenberg serviram de ambientação e foram colocadas nas paredes. O evento prosseguiu com a palestra do professor J. Cage. proferida do topo de escada móvel, simultaneamente com a projeção de slides e filmes (08 mm) sobre as pinturas de R. Rauschenberg e a leitura de poesias de Charles Olson. O primeiro, dito, Evento Teatral foi produzido no teatro da escola, ocasião em que M. Cunningham dançou, circulando por entre a platéia, que se sentou nos quatro blocos triangulares que faceavam uns aos outros. John Cage tocou, no seu primeiro piano dito, preparado com pedaços de feltro, que foram colocados pelo músico por entre as cordas do instrumento e que produziram o som martelado, tal qual som de percussão. Nesse dito, Evento Teatral, os artistas tocaram canções francesas de Edith Piaff em discos arranhados; foi este o primeiro Happening, de que se tem notícia na arte Norte-Americana (LUCIE-SMITH, 1971).

O historiador Edward Lucie-Smith associou o nascimento do primeiro Acontecimento ao surgimento da dita, Arte Pop (Popular ou Massiva) na América. A maioria dos artistas associados ao citado movimento participou dos Acontecimentos ocorridos desde o começo da década de 1960 (v.). Consideramos como o primeiro Acontecimento nas Artes Plásticas a apresentação de Allan Karpow, dos 18 Acontecimentos em 6 partes, realizado em galeria de arte (Nova York, 1959). Kaprow é descrito em muitos livros como figura central na emergência da vida dos Acontecimentos e autoridade no que diz respeito à evolução dos Ambientações [Environment(s]. No final da década de 1950 e durante o decorrer dos anos 1960 Kaprow construiu sua sólida reputação artística nas vanguardas americanas. A emergência deste novo tipo de manifestação como forma de arte deu-se pouco antes da eclosão do Grupo performático Fluxo (1961, na América; 1962, na Europa, v.) e do movimento da Arte Pop (1962-; v.), que também promoveu performances associadas à música do rock, como as de Andy Warhol e Jean-Michel Basquiat (Nova York, 1962-; v. Grupo Performático do Velvet Underground; v. Espaço da Performance P.S. 122. (LUCIE-SMITH, 1971).


Na Europa foi decisiva a influência internacional do grupo Fluxo, devido a ativa participação de Josef Beys, que abriu as portas européias para acolher esse grupo de vanguarda (Dusseldorf, Alemanha, 1962-). Outros artistas performáticos precurssores europeus influentes foram Bazon Brock, Klaus Rinke e Peter Kuttner (Alemanha); Peter Dockley (Londres); Stan van der Beek e Ger van Elk (Holanda). Na década de 1960 os limites das ações performáticas se mantiveram soltos e fluídos, quando incluíram muitas ações espontâneas características dos Acontecimentos [Happenings], marcados por ação única, não repetida. Nas Performances (v.), as ações foram sempre mais planejadas e menos espontâneas, e, muitas vezes, foram repetidas em locais diferentes, como na peça de teatro ensaiada (GOLDBERG,1998).

Outras ações performáticas incluíram Música e Anti-Música (John Cage, Yoko Ono, La Monte Young, Marian Zazeela), aliadas aos movimentos da dita, Arte Corporal do Movimento: a Dança Pós-moderna (v), que iniciou sua nova fase coreográfica com vários performáticos. Uma vez que os Acontecimentos se estabeleceram na cena artística nova-iorquina, atraíram a atenção do universo da moda e das personalidades, do mesmo modo que os Futuristas italianos fizeram na Itália com as Noitadas Futuristas [Serate Futurista]; e os Futuristas russos se apresentaram performaticamente nas leituras de suas poesias (Moscou e Riga, 1910-1913; v.), antes da Revolução Russa (1917).(GOLDBERG, 1979; GOLDBERG, 1998).

Os Acontecimentos produziram grande impacto na Arte do Movimento –Dança Pós-Moderna Americana (v.). A partir desse momento os Acontecimentos passaram a se desenvolver nas diversas direções e associaram técnicas diferentes, muitas das quais foram inimigas do desenvolvimento das Performances como uma forma autônoma de arte. O teatro tradicional, no qual os artistas do(s) Acontecimento(s) apresentaram suas obras, logo absorveu algumas das características do novo meio de expressão, como a ruptura da narrativa. Esse fato tornou possível que os autores passassem a se comunicar de maneira nova com suas audiências, através de imagens verbais e visuais, além de manterem a característica principal da performance da oralidade em presença. 


 
REFERÊNCIAS SELECIONADAS:


 
ARTIGO. MACHADO, A. Fluxus: arte e vida sem separação. Rio de Janeiro: Veredas, CCBB, pp. 30-35.

 
CATÁLOGO. ZANINI, Walter (Curador). Poéticas Visuais. São Paulo: Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, SP.



DICIONÁRIO. DUROZOI, G. Dictionaire de l'art moderne et contemporain. Sous la direction de Gérard Durozoi. Paris: Fernand Hazam, 1992. 676p.: Il, pp. 52, 590.




DICIONÁRIO. SCHMIED, W.; WITFORD, F.; ZOLLNER, F. The Prestel Dictionary of Art and Artists in the 20th century. München – London - New York: Prestel, 2000. 383p.: il., pp. 307-308.

 
WARR, T.: JONES, A. (Survey). The Artist´s Body. London: Tracey Warr, Phaidon Press, 2000, 2002. 304p.: il., algumas color., pp. 28, 72, 291. 26 x 30 cm.  


 

PERFORMANCE MULTIMÍDIA (Europa, 1963-; Nova York, 1963-; São Paulo e Rio de Janeiro, a partir de meados da décadade 1980).

As Performances Multimídia começaram a partir do começo da década de 1970, quando os artistas plásticos passaram a se apresentar com monólogos, ilustrados com projeções de slides, e música, entre outras mídias modernas na época. Entre os pioneiros americanos citamos Yvonne Rainer, dançarina e coreógrafa, que participou do Grupo do Teatro Judson, e que depois se tornou artista performática multimídia. Na década de 1970 a artista se apresentou na Performance Esta é a História de uma Mulher (This is the Story if a Woman, 1974-). Outro performático foi Eric Bogosian, que assumiu a identidade de Ricky Paul, e realizou muitas apresentações com seus monólogos, em espaços intimistas de clubes nova-iorquinos conhecidos na década.




Na década de 1960 os eventos performáticos que ocorreram foram chamados de Acontecimentos (Happenings, v.); foi o começo da Dança Pós-Moderna (v. Pós-Modernismo), inicialmente com o Grupo do Teatro Judson (Nova York, 1960-1965), cujos dançarinos e coreógrafos se tornaram destaques nas apresentações performáticas encenadas nas próximas décadas. Artistas como Yayoi Kusama, Carolee Scheneeman e Yoko Ono, foram pioneiras das Performances feministas, muitas realizadas para a câmera e outras nos palcos dos teatros nova-iorquinos (1964-). Outro coletivo influente foi o Grupo Fluxo (Fluxus, Nova York, 1962; Europa, 1963-), que levou suas performances multimídia de curta duração (3-6 minutos cada), para a Europa. Foi Joseph Beys quem abriu para o grupo as portas da Academia de Arte (Düsseldorf, 1963-). O Fluxo se apresentou nas principais capitais européias e incorporou outros artistas europeus ao coletivo, que começou com Georges Maciunas (Nova York, 1962).


Na Europa, um dos primeiros grupos performáticos multimídia que apresentou performances radicais, muitas censuradas, foi o Grupo de Ação de Viena (v., publicarei posteriormente). Várias imagens das performances do grupo se encontram reproduzidas (GOLDBERG, 1998). Outros precursor foi o coreano morador de Nova York, que estudou música na Europa, Nan June Paik: o artista se apresentou em inúmeras apresentações do grupo Fluxo nos Estados Unidos e na Europa (v., publicarei posteriormente). Desde meados da década de 1960 Paik realizou muitas performances independentes, conjuntas com sua companheira, a celista Charlotte Moorman. Paik ficou muito conhecido internacionalmente por ter sido precurssor da Vídeoarte (v.).


Vários festivais foram organizados, na Europa e nos Estados Unidos, como o 1º Simpósio Internacional de Destruição na Arte (Londres, 1966), organizado por Gustav Metzger. Performáticos do mundo todo participaram desse evento, entre eles muitos artistas do Grupo (Americano) Fluxo, que promoveu o Festival de Vanguarda I, II, III, realizados em Nova York, sendo que no terceiro Moorman e Paik apresentaram as Variações sobre um Tema de Saint Saëns(continua).

REFERÊNCIAS SELECIONADAS:

BELGRAD, D. The Culture of Spontainety: Improvisation and the Arts in Postwar America. Chicago - London: The University of Chicago Press, 1998. 343p.: il..

BRITT, D.; MACKINTOSH, A.; NASH, J. M.; ADES, D.; EVERITT, A; WILSON, S.; LIVINSGSTONE, M. Modern Art: from Impressionism to Post-Modernism. London: Thames and Hudson, 1989, 416p.: il.

DEBORD, G. Guy Debord and the Situationist International: Texts and Documents/ edited by Tom McDonough. An October book. Cambridge, Massachussets – London, England: The MIT - Massachussets Intitute of Technology Press, 2001. 2004. 402p., il. 18 cm x 23 cm.

GOLDBERG, R.; ANDERSON, l. (Foreword).  Performance: live art since 1960. New York: Harry N. Abrams, 1998. 240p.: il. 26 x29 cm.

GOLDBERG, R. Performance Art:  from Futurism to the Present. London: Thames and Hudson 2001. 206 p., il.; algumas color. pp. 52-54. 15 x 21 cm. (world of art).

MONOGRAFIA. SILVA, V. P. P. da. Performance artística: apresentação estética e visual do corpo no contexto educativo das artes plásticas. São Paulo: Centro Universitário Maria Antônia, Universidade de São Paulo, 2008.


LECLANCHE-BOULÉ, C. Le Construtivisme Russe: typographies et photomontages. Documentation Marc Martin-Malburet. Paris: Flammarion, 1991. 173p.: il., retrs., pp. 38, 152.

SHEAD, R.  Ballets Russes. Secaucus, New Jersey: Quarto Book, Wellfleet Press, 1989. 192p.: Il,.algumas color., 25 x 33 cm.

GIDAL, P. Andy Warhol: the Factory years, films and paintings. London: Studio Vista, 1971. New York: Da Capo Paperback, 1991. 158p.: il.


WARR, T.: JONES, A. (Survey). The Artist´s Body. London: Tracey Warr, Phaidon Press, 2000, 2002. 304p.: il., algumas color. 26 x 30 cm.