sábado, 25 de maio de 2013





 

 

 

HISTÓRIA DAS PERFORMANCES NO SÉCULO XX.
PERFORMANCES: PERFORMÁTICO E MÚSICO FUTURISTA. RUSSOLO, Luigi (1885-1947).


 
O músico e artista plástico da vanguarda italiana, nasceu em Portogruaro e faleceu em Cerro di Laveno (Itália). Sua família foi dedicada à música; seu pai foi organista da catedral de Portogruaro e diretor da Scuola Cantorum (Latisana); seus irmãos mais velhos foram instrumentistas e todos diplomados pelo Conservatório Giuseppe Verdi (Milão).

Russolo inicialmente se interessou em aprender as técnicas de Gravura e Pintura; ele participou com uma série de gravuras de influência Simbolista, na dita, Exposição Branco e Preto, organizada pela Família Artística Milanesa (1909). Logo Russolo se associou ao grupo dos Futuristas, organizado por F. T. Marinetti; na época ele conheceu Umberto Boccioni, de quem sua obra pictórica recebeu marcante influência, embora preservasse a sua forte personalidade. O artista participou, junto com U. Boccioni, Carlo Carrà, Giacomo Balla e Gino Severini entre outros, da mostra inaugural do Futurismo italiano, organizada por Marinetti; o artista assinou, com o grupo dos pintores citados, o Manifesto dos Pintores Futuristas (Milão, 1910).
       
 
Russolo redigiu seu próprio manifesto, A Arte do Ruído, dito Ruidista, que ele lançou (Milão, 11 mar., 1913), que dedicou ao músico Futurista Francesco Balilla Pratella (1881-1955), apresentando nele a teoria da utilização do ruído inserido no contexto musical, que antecipou de muito as teorias do músico das vanguardas norte-americanas John Cage, na segunda metade do século XX. Russolo passou a se apresentar nas Performances, com o instrumento Entonarumor [Intonarummori], que ele inventou e construiu, em conjunto com o nunca citado Ugo Piatti (1880-1953). Este invento destinou-se à produção de sons ou ruidos modificados através da emissão de sua entonação dinâmica, como o da Música Concreta e Eletrônica, da qual Russolo foi um dos principais precurssores.

         
O artista somente então abandonou a pintura, não sem ter antes produzido algumas obras notáveis nas Artes Plásticas das vanguardas artísticas italianas como Revolta (1911, óleo/ tela, 150 cm x 230 cm, no Haags Gemeentemuseum, Haia), que participou da mostra coletiva Futurista, dita, Arte Livre (Arte Libera, Milão, abr., 1911); e a pintura Música (1911, óleo/ tela, 225 cm x 140 cm, na coleção Salomé e Eric Stowick). Russolo dedicou-se depois somente às suas pesquisas musicais: o artista publicou artigo importante sobre a nova grafia das composições modernas (1914), a qual foi adotada e tornou-se a notação utilizada por compositores de música de vanguarda. Na década de 1950 John Cage publicou novas notações para a moderna música eletrônica.
 
Russolo participou com seu novo instrumento, o Entonarumor, de concertos Futuristas patrocinados por F. T. Marinetti. O músico foi vaiado na sua primeira audição, quando recebeu a chuva de tomates entre outros vegetais que voaram para o palco, entre outras manifestações mais violentas. Russolo, no entanto, não se deixou intimidar e repetiu suas performances em 12 apresentações nos diversos palcos europeus, inclusive uma no Coliseum (Londres, jun., 1914). Na ocasião Russolo conheceu o músico russo Igor Stravinsky, que convidado, compareceu ao concerto. A chegada da I Guerra Mundial afastou Russolo da música: ele se alistou no Batalhão Lombardo de Ciclistas, na companhia de outros artistas como Umberto Boccioni (1882-1916). O mais talentoso entre os artistas Futuristas, o amigo de Russolo, perdeu a vida durante o conflito (1916), bem como o destacado arquiteto Futurista, Antônio Sant`Elia(1888-1916), dono de igual trágico destino.

 Russolo publicou L'arte dei rumori (A arte do rumor. Milão: Editora Futurista de Poesia, 1916); a editora pertencia a F. T. Marinetti. Russolo participou com seu instrumento Intonarummori de concertos parisienses, apresentando-se com vários instrumentos que produziam ruídos (dias 17, 20 e 24 jun., 1921). Estes ruídos foram classificados em seis categorias, conforme publicado (DUFOURCQ, 1976):

01- Rugidos, estalidos, ruídos de água, mugidos;

02- Sibilos, roncos;

03- Murmúrios, grunidos, gorgoteos;

04- Estridências, zumbidos;

05- Ruídos de percussão sobre metal, madeira, pele, pedra, barro cozido, e outros;

06- Vozes de homens e de animais, gritos, gemidos, aulidos, risadas, soluços e estertores.

 
No caso dos concertos de Russolo, seus ruídos foram apresentados por 29 instrumentos, sendo 3 ditos, auladores, 3 rugidores, 3 crepitadores, 3 para estridências, 3 zumbadores, 3 gorgeteadores, 2 tronadores, 1 sibilador, 4 grasnadores e 4 chilrreadores. De todos os instrumentos inventados por Russolo somente sobreviveram os auladores e os crepitadores, que foram utilizados na construção do Entonarumor. Russolo participou com seu novo instrumento do concerto conjunto realizado com Uggo Piatti, na apresentação da peça O Tambor de Fogo [Il Tamburo de Fuoco], de autoria de F. T. Marinetti. A peça apresentou um interlúdio musical de Balilla Pratella, um dos mais destacados compositores italianos das vanguardas Futuristas (Praga, República Tcheca, 1922).

Russolo passou a construir vários de seus intrumentos, que patenteou em alguns países (1925-); no entanto, quando o músico e pintor recusou a filiação ao partido Fascista, que, com Benito Mussolini passou a dominar a Itália (1922-) e ao qual vários outros Futuristas aderiram, ele foi afastado da segunda fase do movimento italiano comandado e patrocinado por F. T. Marinetti, colega de liceu do ditador Mussolini. Russolo se apresentou no seu último concerto com o Entonarumori (Milão, 1925), no qual ele reproduziu composições de seu irmão Antonio Russolo e de Franco Casavola (1891-1955).
 
Russolo foi convidado por Marinetti e compôs a música para os três únicos filmes Futuristas (1916-1917), cujas cópias não existem mais: Futuristas em Paris [Futuristi a Parigi], no qual ele também atuou; A Marcha das Máquinas [La marche des machines]; e Montparnasse, filme no qual atuaram Marinetti e Enrico Prampolini (1894-1956).

No final da década de 1920, com o advento do cinema sonoro, o instrumento de Russolo ficou sem utilidade, fazendo com que o artista desiludido, abandonasse seu projeto. Hoje, ao que se sabe, não restou nenhum exemplar no mundo do Entonarumor, que, ao que foi relatado, produzia som surdo, de timbre baixo, e mesmo difícil de ser ouvido.

Russolo dedicou o resto de sua vida a filosofia e as ciências do Ocultismo: sua última apresentação em concerto público foi como convidado de Michel Seuphor, pois ele se apresentou como músico na inauguração da primeira exposição dos pintores internacionais do Grupo Círculo e Quadrado [Cercle et Carré], realizada na Galeria 23 (Paris. 28 dez., 1929).

As pinturas de Russolo A Música (1911) e A Revolta (1911), se encontram reproduzidas (HULTEN, 1986; e PIERRE, 1991). A obra de Russolo Dinamismo de um automóvel (óleo/ tela, 104 cmx 140 cm, no MNAM, Paris), se encontra reproduzida (DUROZOI, 1992). Duas pinturas do artista, A Solidez da Névoa (1912, óleo/ tela, 10 cm x 65 cm, na coleção Gianni Mattioli, Milão) e O perfume (sd, óleo/ tela, 64,5 cm x 65,5 cm, na coleção Benedetta Marinetti, Roma), participaram da Sala Especial do Futurismo, com curadoria de G. C. Argan, Giuseppe Fiocco, Luciano Minguzzi, Rodolfo Pallucchini, Carlo Alberto Pretrucci e Gino Severini na II Bienal de São Paulo (1953). (v. abaixo o texto Arte Sonora ou Arte do Ambiente Sonoro ou Arte Ruidista).

REFERÊNCIAS SELECIONADAS:





CATÁLOGO. HULTEN, P. (ORG.); JUANPERE, J.A.; ASANO, T.; CACCIARI, M.; CALVESI, M.; CARAMEL, L;. CAUMONT, J;.CELANT, G;. COHEN, E.; CORK, R.;CRISPOLTI, E.; FELICE, R; DE; MARIA, L. DE; DI MILLIA, G.;FABRIS, A.;FAUCGEREAU, S.; GOUGH-COOPER, J.;GREGOTTI, V.;LEVIN, G.; LEWISON, J.; MAFFINA, F.;MENNA, F.; ÁCINI, P.;RONDOLINO, G;. RUDENSTINE, A.; SALARIS, C.;SILK, G.; SMEJKAI, F.;STRADA, V.;VERDONE, M.;ZADORA, S. Futurism and Futurisms.New York: Solomon R. Guggenheim Museum, Abeville Publishers, 1986. 638p.: il, retrs., pp. 558-562.
 
CATÁLOGO GERAL. MILLIET, S.; PFEIFER, W.. II Bienal do Museu de Arte Moderna.. São Paulo: EDIAM, 1ª ed., dez., 1953. 1953, p. 218.

DICIONÁRIO. DUROZOI, G. Dictionaire de l'art moderne et contemporain. Sous la direction de Gérard Durozoi. Paris: Fernand Hazam, 1992. 676p.: il., p. 545.


DUFOURCQ, N. (Org.); ALAIN, O.; ANDRAL, M.: BAINES, A.; BIRKNER, G.; BRIDGMAN, N.; Mme. de CHAMBURE; CHARNASSÉ, H.; CORBIN, S.; AZEVEDO, L. H. C. de; DESAUTELS, A.; DEVOTO, D.; DUFOURQ, N.; FERCHAULT, G.: GAGNEPAIN, B.; GAUTHIER, A.; GÉRARD, Y. HALBREICH, H.; HELFFER, M.; HODEIR, A.; ROSTILAV, M.; HOFMANN, Z.; MACHABEY, A.; MARCEL-DUBOIS, C.; MILLIOT, S.; MONICHON, P.; RAUGEL, F.; RICCI, J.; ROUBERT, F.; ROSTAND, C.; ROUGET, G.; SANVOISIN, M.; SARTORI, C. SHILOAH, A.; STRICKER, R.: TOURTE, R.; TRAN VAN KHÊ, A. V., VERLET, C. VERNILLAT, F.; WIRSTA, A.; ZENATTI, A.
La Música: Los Hombres, Los Instrumentos, Las Obras. Barcelona: Planeta, 1976, pp. 364, 369.

 
PIERRE, J. El futurismo y el dadaísmo. Madrid: Aguilar, 1968, p. 371.


 



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