HISTÓRIA
DAS PERFORMANCES NO SÉCULO XX. HUELSENBECK,
Richard; Charles T. Hulbeck (1892-1974).
REFERÊNCIAS SELECIONADAS:
CATÁLOGO. ADES,
D. Dada and Surrealism Reviewed. Introduction by David Syilvester and supplementary essay by Elizabetn
Cowling. London: the Authors and the Art Council of Great Britain, Hayward
Galleries, 1978. 475p.: il.,
pp. 79-86, 106, 123-124, 149.
O
artista multimídia, poeta e escritor, promotor de eventos e performático,
nasceu em Frankenau, mas faleceu em Nova York. Huelsenbeck adquiriu nova identidade
na América onde trabalhou como médico psiquiatra, o Dr. Charles T. Hulbeck. A
sua primeira identidade encontra-se associada à fundação do movimento mais
radical europeu na primeira metade do século XX, o Dadaísmo berlinense.
Huelsenbeck
chegou a Zurique em fevereiro e participou ativamente de todas as manifestações
dadaístas realizadas no Cabaré Voltaire
(1916), fundado por Hugo Ball (1886-1927). Huelsenbeck introduziu nas performances musicais Dadaístas o bumbo,
que produziu som inspirado na cultura africana, que parecia adequado às danças
com máscaras e vestes inspiradas nas culturas negras primitivas. Para a
realização das apresentações de dança foram criados costumes rígidos de papelão
por Marcel Janco (1895-1984) e Sophie Taeuber (depois Arp, 1889-1943). As
indumentárias foram usadas por Suzanne Perrotet, Sophie Taeuber e Maja Kruschek, esta última
namorada do poeta Tristan Tzara (1896-1963), entre outras alunas da Escola de Dança do músico, dançarino e
coreógrafo Rudolf von Laban. Foi o
talentoso Laban quem coreografou de modo revolucionário os números de dança das
performances dirigidas por Hugo Ball que
foi aluno de direção cênica de Max Reinhardt, no Teatro de Câmera de Munique.
Durante
cinco meses as performances
aconteceram diariamente, no minúsculo palco do Cabaré Voltaire, que lançou o único número da revista homônima e
inaugurou exposição de arte moderna nas paredes, com a participação de artistas
como Pablo Picasso e Alberto Giacometti.
Em poucos meses o cabaré foi obrigado a encerrar as atividades, devido a
problemas contratuais; logo a seguir o movimento Dadaísta inaugurou a Galeria
Dadá, que promoveu palestras de Tzara e Arp, .além de exposições das obras de
vanguardistas como Théo e Adya van Rees, entre outros. A Galeria de Arte permaneceu
aberta durante apenas dois meses. Logo estabeleceu-se acirrada rivalidade
intelectual entre Huelsenbeck, de forte temperamento, com o poeta romeno
Tristan Tzara: certamente não havia lugar para ambos em Zurique.
Huelsenbeck
voltou para Berlim, onde estudava medicina: ele iniciou outro núcleo dadaísta, que surgiu
bem mais radical. Huelsenbeck lançou o seu Manifesto Dadá no Gabinete Gráfico
Newmann (Berlim, 1918). O poeta associou-se aos irmãos John Heartfield, Tom e
Wieland Herzfeld, fundadores da Editora Malik
[Malik Verlag], e, conjuntamente, lançaram o Almanaque Dadá (1920). Huelsenbeck escreveu alguns textos
polêmicos, que publicou, como A Alemanha Deve
Desaparecer, Dadá vencerá! O poeta reeditou seu poema Oração Fantástica [Fantastische Gebete], lançadona Coleção Dadá
(Mouvement Dada Verlag, Zurique, 1916. 1960, exemplar na coleção Arthur Cohen, Nova
York); seu poema sonoro Schalaben Schalamei Schalamezomai, ilustrado com 4
xilogravuras de Hans Arp (Zurich: Mouvement Dada Collection, 1916; exemplar na Ex-Libris, Nova York); o texto conjunto
com Tristan Tzara, Diálogo Dadá entre Agulha
de Crochê e Palito de Fósforo (Dada dialogue entre un crochet et une
alloutte. Zurich: Cabaret Voltaire, juin, 1916); publicou seu Manifesto Dadaísta (Dadaistisches
Manifest. Zurich: Dada Almanach, 1916). Foram várias as performances de declamação de poesias, nas cidades onde o dadaísmo tornou-se movimento ativo (Zurique,
Colônia, Berlim, Paris).
Lembramos
que a Alemanha perdeu a I Guerra Mundial e a cidade
de Berlim encontrava-se imersa em profunda crise, social e política, que
deflagrou inúmeras greves operárias. Na capital alemã predominava profunda
recessão com desemprego, deterioração dos costumes, miséria e fome. As revistas
Dadaístas foram profundamente entranhadas na política, muitas publicadas pela Editora
Malik: lançaram vários manifestos e foram distribuídas nas portas das fábricas.
Assim que uma revista apresentava problemas com a censura, os jovens e
batalhadores editores lançavam outra similar e politizada.
Huelsenbeck tornou-se ativo colaborador das publicações dadaístas: ele publicou
seu texto O Idiota [Der Idiot]; e Vorwortzur Geschichte der Zeit/
Doktor Billig am Ende (Berlin: Die Freie Strasse, 1918) e na mesma revista,
assinou juntamente com Franz Jung (1888-1963) Parada Americanizada (Americanische
Parade/ Ende der Welt. Berlin: Die Freie Strasse, 1918). O manifesto de
Huelsenbeck encontra-se traduzido (inglês) e publicado (First German Dada Manifesto. New York: 1949. Wittenborn:
1951). Huelsenbeck publicou Verwandlungen
(Munique, 1918); Aksenten oder die Knallbude (Berlim, 1918); Ein
geburststagsgesang fur Bijo Berry z. Z.
Interniet (Zurich: Dada n. 4 - 5, Anthologie Dada), revista editada por T. Tzara (15 maio, 1919).
Huelsenbeck escreveu o poema Schriber – Politik,
publicado na revista Der Blutige Ernst (n. 4), editada por Carl Einstein e George Grosz
(Berlim, 1919); e publicou ainda Mainacht
Fruhling 1918 na Der Zeltweg, revista editada por
Otto Flake, Tristan Tzara e Walter Serner (Zurique, nov., 1919). Huelsenbeck
publicou o artigo Abendgesang S. M. des
kaisers, na revista Der Blutige Ernst (n. 5, 1920) e os
textos Dada - Schalmei/ Ein
Besuch/ Cabaret Dada na revista Der Dada (n. 3), editada por Grosfield,
Hearthaus e Georgemann, pseudônimos de G. Grosz, J. Heartfield e R. Huelsenbeck
(abril, 1920); o texto En Avant Dada, Die
Geschichte des Dadaismus (Hanover, 1920); Dada siegt (Berlim, 1920), bem como Deustchland muss untergehen! Erinnerrungen eines alten Dadaistischen
Revolutionars (Berlim, 1920) e o Almanaque Dadá (Dada Almanach, Berlim,1920),
que o próprio Huelsenbeck editou; o texto Doktor
Billig am Ende (Munique, 1921); Die
Antwort der Tiefe (Wiesbaden, 1954); e Mit Witz, Licht und Grutze;
auf den Spuren des Dadaismus (Wiesbaden, 1957); e, finalmente Dada eine literarische Dokumentation
(Hamburgo, 1964).
O
movimento dadaísta em Berlim apresentou a única mostra importante: foi a Feira
Dadá [Dada Messe], realizada com a participação de 27 artistas e a apresentação
de 140 obras na Galeria de Arte do Dr. Otto Burchard (1920). A mostra
radicalizou devido a apresentação da obra de Raoul Hausmann (1886-1971) e John
Heartfield (1891-1959), conhecida como O
Arcanjo Prussiano: os artistas vestiram manequim inflável, de tamanho
natural, com o uniforme das forças especiais alemãs (nazistas) e completaram-no
com máscara de cabeça de porco. O manequim pairou no teto da galeria de arte e
assim foi fotografado na inauguração da exposição, foto reproduzida (GIBSON, 1991).
A obra resultou em processo judicial, tanto para os artistas envolvidos bem
como para o Dr. Otto Burchard: foram julgados e condenados, com multa para os
artistas e alguns meses de prisão para Burchard (maio, 1921). O processo
judicial determinou o final do dadaísmo berlinense. Devido
a morte do movimento (1921), Huelsenbeck desinteressou-se das atividades
artísticas revolucionárias e terminou seus estudos de medicina; ele formou-se
em Psiquiatria. Alguns anos depois o Dadaísta trabalhou como médico em navio:
ele desembarcou em Nova York, onde passou a viver e trabalhar como analista,
com o novo nome de Charles R. Hulbeck. Sempre artista, Huelsenbeck continuou a
produzir suas obras, principalmente na técnica de Colagem, característica do Dadaísmo berlinense. O Dr. Hulbeck tornou-se
membro da Associação dos Pintores Americanos Abstracionistas: ele expôs suas
obras em mostra individual na Galeria Deux
Isles (Paris, 1950) e no Kunstantiquariat
Wasmuth (Berlim, 1956). Várias
fotografias de R. Huelsenbeck, na época do dadaísmo em Zurique e Berlim (1917-1920),
encontram-se publicadas (ADES, 1978; GIBSON, 1991; e RICHTER, 1993).
DICIONÁRIO. SEUPHOR, M. Dictionaire
de la peinture abstraite: precédé d´une histoire de la peinture. Paris: Fernand Hazam, 1957. 305p.:
il., p. 191.
LIVROS:
GIBSON, M. Duchamp
Dada. Paris: N. E. F. Casterman, 1991. 243p.: il., pp. 84-93, 254.
PIERRE, J. El
futurismo y el dadaismo. Madrid: Aguilar, 1968, pp. 174-175.
RICHTER, H. HAUPTMANN, W.
(Post-Scriptum). Dada art & anti-art. Cologne: Du Mont Shauberg,
1964. 1965. 246p.: il.
RICHTER, H. Dadá
Arte e Anti-Arte. Tradução de Marion Fleischer. São Paulo: Martins Fontes,
1993, pp. 33-49.