quarta-feira, 24 de julho de 2013

HISTÓRIA DAS PERFORMANCES NO SÉCULO XX. HUELSENBECK, Richard; Charles T. Hulbeck (1892-1974).

 

O artista multimídia, poeta e escritor, promotor de eventos e performático, nasceu em Frankenau, mas faleceu em Nova York. Huelsenbeck adquiriu nova identidade na América onde trabalhou como médico psiquiatra, o Dr. Charles T. Hulbeck. A sua primeira identidade encontra-se associada à fundação do movimento mais radical europeu na primeira metade do século XX, o Dadaísmo berlinense.

         
Huelsenbeck chegou a Zurique em fevereiro e participou ativamente de todas as manifestações dadaístas realizadas no Cabaré Voltaire (1916), fundado por Hugo Ball (1886-1927). Huelsenbeck introduziu nas performances musicais Dadaístas o bumbo, que produziu som inspirado na cultura africana, que parecia adequado às danças com máscaras e vestes inspiradas nas culturas negras primitivas. Para a realização das apresentações de dança foram criados costumes rígidos de papelão por Marcel Janco (1895-1984) e Sophie Taeuber (depois Arp, 1889-1943). As indumentárias foram usadas por Suzanne Perrotet,  Sophie Taeuber e Maja Kruschek, esta última namorada do poeta Tristan Tzara (1896-1963), entre outras alunas da Escola de Dança do músico, dançarino e coreógrafo  Rudolf von Laban. Foi o talentoso Laban quem coreografou de modo revolucionário os números de dança das performances dirigidas por Hugo Ball que foi aluno de direção cênica de Max Reinhardt, no Teatro de Câmera de Munique.
 
Durante cinco meses as performances aconteceram diariamente, no minúsculo palco do Cabaré Voltaire, que lançou o único número da revista homônima e inaugurou exposição de arte moderna nas paredes, com a participação de artistas como      Pablo Picasso e Alberto Giacometti. Em poucos meses o cabaré foi obrigado a encerrar as atividades, devido a problemas contratuais; logo a seguir o movimento Dadaísta inaugurou a Galeria Dadá, que promoveu palestras de Tzara e Arp, .além de exposições das obras de vanguardistas como Théo e Adya van Rees, entre outros. A Galeria de Arte permaneceu aberta durante apenas dois meses. Logo estabeleceu-se acirrada rivalidade intelectual entre Huelsenbeck, de forte temperamento, com o poeta romeno Tristan Tzara: certamente não havia lugar para ambos em Zurique.
 
Huelsenbeck voltou para Berlim, onde estudava medicina: ele  iniciou outro núcleo dadaísta, que surgiu bem mais radical. Huelsenbeck lançou o seu Manifesto Dadá no Gabinete Gráfico Newmann (Berlim, 1918). O poeta associou-se aos irmãos John Heartfield, Tom e Wieland Herzfeld, fundadores da Editora Malik [Malik Verlag], e, conjuntamente, lançaram o Almanaque Dadá (1920). Huelsenbeck escreveu alguns textos polêmicos, que publicou, como A Alemanha Deve Desaparecer, Dadá vencerá! O poeta reeditou seu poema Oração Fantástica  [Fantastische Gebete], lançadona Coleção Dadá (Mouvement Dada Verlag, Zurique, 1916. 1960, exemplar na coleção Arthur Cohen, Nova York); seu poema sonoro Schalaben Schalamei  Schalamezomai, ilustrado com 4 xilogravuras de Hans Arp (Zurich: Mouvement Dada Collection, 1916;  exemplar na Ex-Libris, Nova York); o texto conjunto com Tristan Tzara, Diálogo Dadá entre Agulha de Crochê e Palito de Fósforo (Dada dialogue entre un crochet et une alloutte. Zurich: Cabaret Voltaire, juin, 1916); publicou seu Manifesto Dadaísta (Dadaistisches Manifest. Zurich: Dada Almanach, 1916). Foram várias as performances de declamação de poesias, nas cidades onde o dadaísmo tornou-se movimento ativo (Zurique, Colônia, Berlim, Paris).
 
Lembramos que a Alemanha perdeu a I Guerra Mundial e a cidade de Berlim encontrava-se imersa em profunda crise, social e política, que deflagrou inúmeras greves operárias. Na capital alemã predominava profunda recessão com desemprego, deterioração dos costumes, miséria e fome. As revistas Dadaístas foram profundamente entranhadas na política, muitas publicadas pela Editora Malik: lançaram vários manifestos e foram distribuídas nas portas das fábricas. Assim que uma revista apresentava problemas com a censura, os jovens e batalhadores  editores lançavam outra similar e politizada. Huelsenbeck tornou-se ativo colaborador das publicações dadaístas: ele publicou seu  texto O Idiota [Der Idiot]; e Vorwortzur Geschichte der Zeit/ Doktor Billig am Ende (Berlin: Die Freie Strasse, 1918) e na mesma revista, assinou juntamente com Franz Jung (1888-1963) Parada  Americanizada (Americanische Parade/ Ende der Welt. Berlin: Die Freie Strasse, 1918). O manifesto de Huelsenbeck encontra-se traduzido (inglês) e publicado (First German Dada  Manifesto. New York: 1949. Wittenborn: 1951). Huelsenbeck publicou Verwandlungen (Munique, 1918); Aksenten oder die Knallbude (Berlim, 1918); Ein geburststagsgesang  fur Bijo Berry z. Z. Interniet (Zurich: Dada n. 4 - 5, Anthologie Dada), revista  editada por T. Tzara (15 maio, 1919). Huelsenbeck escreveu o poema Schriber – Politik, publicado na revista Der Blutige Ernst (n. 4), editada por Carl Einstein e George Grosz (Berlim, 1919); e publicou ainda Mainacht Fruhling 1918 na Der Zeltweg, revista editada por Otto Flake, Tristan Tzara e Walter Serner (Zurique, nov., 1919). Huelsenbeck publicou o artigo Abendgesang S. M. des kaisers, na revista Der Blutige Ernst (n. 5, 1920) e os textos  Dada - Schalmei/ Ein Besuch/ Cabaret Dada na revista Der Dada (n. 3), editada por Grosfield, Hearthaus e Georgemann, pseudônimos de G. Grosz, J. Heartfield e R. Huelsenbeck (abril, 1920); o texto En Avant Dada, Die Geschichte des Dadaismus (Hanover, 1920); Dada siegt (Berlim, 1920), bem como Deustchland muss untergehen! Erinnerrungen eines alten Dadaistischen Revolutionars (Berlim, 1920) e o Almanaque Dadá (Dada Almanach, Berlim,1920), que o próprio Huelsenbeck editou; o texto Doktor Billig am Ende (Munique, 1921); Die Antwort der Tiefe (Wiesbaden, 1954); e Mit Witz, Licht und Grutze; auf den Spuren des Dadaismus (Wiesbaden, 1957); e, finalmente Dada eine literarische Dokumentation (Hamburgo, 1964).

 
O movimento dadaísta em Berlim apresentou a única mostra importante: foi a Feira Dadá [Dada Messe], realizada com a participação de 27 artistas e a apresentação de 140 obras na Galeria de Arte do Dr. Otto Burchard (1920). A mostra radicalizou devido a apresentação da obra de Raoul Hausmann (1886-1971) e John Heartfield (1891-1959), conhecida como O Arcanjo Prussiano: os artistas vestiram manequim inflável, de tamanho natural, com o uniforme das forças especiais alemãs (nazistas) e completaram-no com máscara de cabeça de porco. O manequim pairou no teto da galeria de arte e assim foi fotografado na inauguração da exposição, foto reproduzida (GIBSON, 1991). A obra resultou em processo judicial, tanto para os artistas envolvidos bem como para o Dr. Otto Burchard: foram julgados e condenados, com multa para os artistas e alguns meses de prisão para Burchard (maio, 1921). O processo judicial determinou o final do dadaísmo berlinense. Devido a morte do movimento (1921), Huelsenbeck desinteressou-se das atividades artísticas revolucionárias e terminou seus estudos de medicina; ele formou-se em Psiquiatria. Alguns anos depois o Dadaísta trabalhou como médico em navio: ele desembarcou em Nova York, onde passou a viver e trabalhar como analista, com o novo nome de Charles R. Hulbeck. Sempre artista, Huelsenbeck continuou a produzir suas obras, principalmente na técnica de Colagem, característica do Dadaísmo berlinense. O Dr. Hulbeck tornou-se membro da Associação dos Pintores Americanos Abstracionistas: ele expôs suas obras em mostra individual na Galeria Deux Isles (Paris, 1950) e no Kunstantiquariat Wasmuth (Berlim, 1956). Várias fotografias de R. Huelsenbeck, na época do dadaísmo em Zurique e Berlim (1917-1920), encontram-se publicadas (ADES, 1978; GIBSON, 1991; e RICHTER, 1993).

         
REFERÊNCIAS SELECIONADAS:

 
 CATÁLOGO. ADES, D. Dada and Surrealism Reviewed. Introduction by David Syilvester and supplementary essay by Elizabetn Cowling. London: the Authors and the Art Council of Great Britain, Hayward Galleries, 1978. 475p.: il., pp. 79-86, 106, 123-124, 149.
 
DICIONÁRIO. SEUPHOR, M. Dictionaire de la peinture abstraite: precédé d´une histoire de la peinture. Paris: Fernand Hazam, 1957. 305p.: il., p. 191.


LIVROS:
 

GIBSON, M. Duchamp Dada. Paris: N. E. F. Casterman, 1991. 243p.: il., pp. 84-93, 254.


PIERRE, J. El futurismo y el dadaismo. Madrid: Aguilar, 1968, pp. 174-175.


RICHTER, H. HAUPTMANN, W. (Post-Scriptum). Dada art & anti-art. Cologne: Du Mont Shauberg, 1964. 1965. 246p.: il.
 

RICHTER, H. Dadá Arte e Anti-Arte. Tradução de Marion Fleischer. São Paulo: Martins Fontes, 1993, pp. 33-49. 

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