A Bauhaus alemã (Dessau – Weimar – Berlim, 1919-1932), foi celeiro de
artistas performáticos a partir do ensino de Lothar Schreyer e
Oskar Schlemmer (respectivamente, 1921-1923 e 1923-1929). Na escola que formou as vanguardas alemãs e
européias devido ao grande número de estudantes estrangeiros, os dois mestres
citados se destacaram (Teatro e Performance). Não existiu o
Mestre-Artesão, mas Carl Schlemmer, irmão de Oskar, colaborou com a execução
dos figurinos mesmo após sua saída da escola, em 1922. Schlemmer foi o principal Mestre da Performance, disciplina tornada oficial em Dessau (1923-1929). Schlemmer inovou com o seu Balé Triádico, que começou a ser
apresentado em trechos desde o começo das atividades da escola (Weimar, 1919 -
Berlim – Paris, 1930). Um capítulo à parte foram as performances
que ocorreram na Bauhaus: vários alunos realizaram inúmeras ações originais no
teatro da escola e em outros teatros regionais. Entre esses se destacaram as
performances de Hermann Roman Clemens, Ilse Fehling, Ludwig Hirschfeld-Mack,
Georg Kaiser, Walter Kaminski, Lothar Kaminsky, Manda von Kreibig, Albert
Mentzel, Xanti Schavinsky, Kurt Schwerdtfeger, Werner Siedhoff e Fritz Winter,
entre outros.
Na Dança Moderna o grupo inglês Dança para a Câmera documentou para a câmera as performances mais originais da dança inglesa. O oposto da Arte da Dança foi a obra posada dos performáticos europeus Gilbert e George, que começaram a se apresentar como escultura vivas: mas não eram esculturas paradas, pois eles cantavam, na Escultura Cantante (Singing Sculpture, Londres, 1970). Os artistas transformados em esculturas vivas se apresentaram em várias performances públicas, quando foram fotografados em poses nas quais parodiavam obras de arte famosas. Surgiu pouco depois, a dita, Banda da Pose [Pose Band], à partir do trabalho de alunos da Faculdade Real de Arte (Royal College of Art, Londres, 1973). Os associados desse grupo apareceram vestidos com tecido sintético prata, sendo suas vestes infladas com a utilização de secadores manuais de cabelo, em poses nas quais os integrantes parodiaram filmes famosos de atores como Victor Mature, considerado canastrão, entre outros.
Vários artistas performáticos atuando na Arte Corporal queriam mais do que
chocar o seu público, mas expressar profundos traumas através de atos
extremados de performances associadas ao universo do inconsciente. Foram atos
que expressaram a dor no próprio corpo, como no caso da italiana a Gina Pane
(1939-1990), que subiu de pés descalços uma escada cujos degraus foram formados
por lâminas cortantes. Ou do inglês Stuart Brisley, que ficou durante vários
dias jejuando, mergulhado em banheira contendo água e pedaços de carne crua que
apodreceram; foi somente por grande insistência de seus amigos que ele
abandonou a performance E por Hoje, Nada
[... And for Today Nothing]. Outros performáticos chocaram o público quando defecaram ou
utinaram em público: o alemão Benjamin Franklyn Wedekind, foi o primeiro
artista performático das vanguardas européias no século XX. Crítico ácido do
Kaiser da Prússia, ele urinou em público no palco teatral (Munique, 1905). O
artista foi perseguido e preso várias vezes, mas conseguiu realizar várias performances
em salões destacados das elites européias, como em Viena (1908). A obra de
Wedekind foi registrada e revista em muitas performances realizadas
no decorrer do século XX: marcante foi a atuação da atriz Louise Brooks, a Lulu no filme mais conhecido de Pabst, O Livro de Pandora (Die Buchsee der
Pandora, 1929), baseado na obra homônima de B. F. Wedekind.
Outro artista que
radicalizou nas suas performances foi Mike Kelley, que
produziu a obra Manipulando Objetos
Idealizados Produzidos com Massa [Manipulating Mass-Produced Idealized
Objects], quando o artista defecou e manipulou suas próprias fezes ao vivo no
palco teatral, acompanhado de mulher ocupada na mesma tarefa. A fotografia da performance
foi capa do álbum de rock do grupo Sonic
Youth (Nova York, 1990). Duas fotografias dessa performance se encontram reproduzidas (GOLDBERG, 2002).
Novo estilo de Arte
Corporal resultou de transformações realizadas no próprio corpo como nas
obras de Orlan, que modificou-se inteiramente por intermédio de inúmeras
cirurgias plásticas, fotografadas, filmadas e até mesmo com imagens televisadas
e transmitidas ao vivo para centros culturais estrangeiros. O artista quis
tornar-se parecido com obras de arte famosas. Não foi o único, mas foi o
primeiro e o mais conhecido artista destacado neste tipo de performance. O primeiro europeu a usar o próprio corpo como painel de sua arte foi o francês
Marcel Duchamp: na década de 1920 o artista recortou no couro cabeludo uma estrela, na obra Tonsure e deixou-se
fotografar com sua obra, foto esta que se encontra publicada (SCHARCZ, 1997).
Outros performáticos se
tornaram conhecidos através de ações violentas, características de artistas
como Rudolf Schwarzkogler (1940-1969), um dos principais performáticos do Grupo de Ação de Viena [Wiener
Aktionismus], do qual participaram Hermann Nitsch, além de Otto Muehl e Arnulf
Rainer. O grupo e seus associados, individualmente ou coletivamente criaram performances bastante
pesadas, nas quais os artistas infligiram dor ao próprio corpo em atos com a
utilização de instrumentos cirúrgicos como bisturí e outros do mesmo gênero,
realizando verdadeiros banhos de sangue, humano ou animal, alguns estripados ao
vivo no palco às vistas do público. A primeira performance de Nitsch foi
levada para o lado do humor negro: na paródia Casamento (Hochzeit, 1965), o artista e companheira encenaram um casamento: enquanto
o noivo tocava acordeão a noiva recebia uma esponja fechando completamente a
sua boca. Outra performance de Rudolf Schwartzkogler foi Cibulka (1972), quando ele empreendeu 6 ações nas quais pareceu
cortar e encurtar o próprio pênis, apresentada na sequência fotográfica que
esteve em exposição em uma das mostras internacionais da Documenta
(Kassel, 1972). Nessa performance executada para a câmera
ocorreu a falsa interpretação das imagens, talvez propositalmente induzida pelo
próprio artista, que, na realidade cortou a carne de um peixe (hering), como se
encontra publicado (GOLDBERG, 2002). No entanto o historiador norte-americano
Robert Hughes descreveu o artista como o Van Gogh da Arte Corporal, acreditando que Schwartzkogler realmente praticara o
ato de cortar o próprio pênis. Foi provavelmente essa crença lendária e
generalizada que levou HUGHES (1998) ao paralelo com o holandês Vincent van
Gogh que amputou a própria orelha. Schwartzkogler, como Van Gogh, entre outros,
abusaram de seu próprio corpo.
Outros artistas, como
Gunther Brus e Otto Muhl, realizaram ações performáticas chocantes, documentadas
em dois filmes: Satisfação e Simultâneo,
apresentados na Galeria Naschst Stephan (Viena,
1970) e na Galeria J. Krinsinger (Innsbruck,
1976). Na mostra carioca do grupo Fluxo,
ao qual Brus pertenceu, ele expôs sua fotografia praticando sexo explícito
(CCBB, Rio de Janeiro, 2002).
Outras performances que envolveram o corpo
dos artistas foram as de destruição de instrumentos musicais: os pianos foram
alvo de várias apresentações. No começo do século XX, o primeiro foi Luigi
Russolo, Futurista italiano que
destruiu piano na performance patrocinada pela revista de Guillaume Apollinaire, Les
Soirées de Paris (1912). Outros foram John Cage e Nan June Paik: suas
ações envolviam todo o corpo e a fotografia de Cage com vários outros
performáticos destruindo piano em um dos primeiros eventos do Fluxo na Europa, se encontra reproduzida
(DUROZOI, 1993). A ação destrutiva envolveu o ato de serrar o instrumento, até
reduzir o piano a um monte de madeira e metal destruído. Outros eventos com
destruição de instrumentos musicais foram perpetrados por artistas do grupo dos
Novos Realistas (Nouveaux Réalistes, Nice – Paris, França, década de
1960). Jacques de La Vileglé foi um dos que queimou vários intrumentos
musicais, entre esses violino, entre outros que destruiu a machadadas
reduzindo-os à montes de destroços. Depois
Vileglé
colocou os pedaços obtidos dentro de caixas de madeira com tampa transparente, especialmente preparadas para tal finalidade, quando a obra foi exposta ao distinto público.
colocou os pedaços obtidos dentro de caixas de madeira com tampa transparente, especialmente preparadas para tal finalidade, quando a obra foi exposta ao distinto público.
8.0 Conclusão.
Escarificações, cicatrizes, pintura
corporal e tatuagens podem ser consideradas como formas de Arte Corporal: os povos primitivos sempre as praticaram. A arte da
pintura corporal dos índios brasileiros Kadiweus, foram documentadas por Darcy
Ribeiro; e a dos povos do Xingu, por Maureen Bissiliat, que fotografou-os para
seu álbum Xingu (1976). Outro exemplo
de Arte Corporal ocorreu quando a
juventude brasileira se transformou nas ditas, Caras Pintadas, nos eventos conhecidos como Diretas já.
Eventos individuais de Artistas do Corpo,
efêmeros ou permanentes, são vistos diariamente nas ruas das grandes metrópoles
mundiais. A Arte Corporal invadiu os
corpos de pessoas comuns, no processo de libertação e de confirmação da
identidade dentro das relações de dominação existentes na sociedade: é através
do próprio corpo que se dá a luta das pessoas comuns, expressando a satisfação de
seus próprios desejos.
Lembrando Foucault:
Lembrando Foucault:
[...]
é então que o corpo investe contra o poder. O poder penetra o corpo e, ao
penetrá-lo, fica exposto no próprio corpo. De repente, [...] as pessoas podem
passar a reinvindicar o seu próprio corpo contra o poder. Ë nessa dialética que
o corpo passa a ser, ao mesmo tempo, objeto e sujeito de transformação [...].
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