quarta-feira, 5 de junho de 2013





 

HISTÓRIA DAS PERFORMANCES NO SÉCULO XX. DADAÍSMO (EM) ZURIQUE (1916-1919).



Destaque: BALL, Hugo.


O grupo começou quando Ball pediu a seu amigo Jan Epharam para utilizar seu cabaré na rua dos Espelhos [Spiegelgasse], em Zurique. No dia da inauguração (5 fev., 1916), apresentaram-se a Ball os jovens: Tristan Tzara e Marcel Janco (romenos), Hans Arp (suiço) e Emmy Hennings (alemã). Na primeira noite Hennings e M. Laconte cantaram canções em francês: Hennings era a única artista profissional do grupo, musa consagrada dos cabarés de Berlim, depois esposa de Ball. Foram declamados poemas de Wassily Kandinsky e Else Lasker; Donnerwetterlied de Frank Wedekind; a Dança da Morte [Tottentanz] e a canção A la Villette, de Aristide Bruant. O cabaré ficou lotado com muitos estrangeiros que abrigaram-se na Suíça, fugindo da I Guerra Mundial, como o próprio Ball que fugiu o serviço militar alemão e entrou na suíça com papéis forjados. O Cabaré ofereceu novos eventos todas as noites; no dia 7 foram declamados poemas de Blaise Cendrars e de Jakob von Hoddis, no dia 11 apresentou-se Richard Huelsenbeck, que depois levou o movimento para Berlim e que iniciou a música com tambores no estilo africano. Na semana seguinte foram declamados poemas de Werfeld, Morgenstern e Lichtenstein; contribuições variadas de Arp, Huelsenbeck , Tzara e Janco. Os artistas inauguraram noites temáticas como a Suíça, aos domingos; a Noite Russa, com música de balalaikas. Tzara declamou poemas de Max Jacob, André Salmon e Jules Laforgue; Rubinstein tocou a sonata para violoncelo de Saint-Saëns e Arp leu a peça de Alfred Jarry O Ubú-Rei (L’Ubu-Roi, 14 mar.).Tzara, Huelsenbeck e Janco declamaram simultaneamente os poemas sonoros de Fernand Divoire e Henri Barzun, bem como o poema de própria autoria, declamado como mantra cadenciado (30 mar).





 Arp foi criador e incentivador das performances, mas nunca apresentou-se no palco. E Ball apresentou-se com costumes de papelão rígido de Janco, no minúsculo palco do Cabaré Voltaire com a recitação de seu poema Karawane (23 jun.). No mesmo mês o Cabaré foi obrigado a fechar as portas: o proprietário do local alegou muito barulho para romper o acordo com Ball, que provavelmente foi verbal. O Dadaísmo não terminou, pois os artistas inauguraram a Sociedade Voltaire (16 abr.,1916) e organizaram mostra internacional de arte. Nesse momento surgiu o nome do movimento, batizado de Dadá por Ball e Huelsenback. Os artistas partiram para espaços alugados como o Haag Hall, onde foi organizada a primeira Noite Dadá (14 jul. 1916). Neste momento e local Hugo Ball leu seu manifesto; Arp recitou Erklänrung; Janco Meine Bilder; apareceram novos nomes, como Heusser, que recitou Eigene Kompositionen; Tzara recitou com várias vozes o poema ruidista de sua autoria; e Huelsenbeck seu Poema Vogal.



 
 
No mês de julho saiu publicado o primeiro volume da Coleção Dadá contendo o texto da peça teatral de autoria de Tzara: A Primeira Aventura Celestial do Sr. Aspirina [La première Aventure Céleste de M. Antipyrine]; em setembro ou outubro foram publicados dois volumes de poesia por Huelsenbeck.Em janeiro do ano seguinte (1917) os artistas lançaram a Galeria Dadá, no espaço alugado à Galeria Corray, em Zurique. A primeira mostra apresentou obras de Arp, Von Rees, Marcel Janco, e Hans Richter além do programa didático de palestras por Tzara, que falou sobre o Cubismo, O Velho e o Novo e A Arte do Presente. A galeria durou menos tempo que o Cabaré Voltaire: apenas 11 semanas. Ball e Hennings partiram para outra cidade suíça, Agnuzzo, na região do Ticino. No entanto, o grupo encontrou apoio com Herwart Walden, do Grupo da Tempestade [Der Sturm] e realizou a segunda mostra de artes plásticas na Galeria da Tempestade (Berlim, 9 abr., 1917). Huelsenbeck, que estudava medicina, permaneceu em Berlim, onde tornou-se a figura inaugural do movimento nesta cidade.

 



Tzara continuou em Zurique tentando levar adiante o movimento, através da publicação de manifestos nas revistas; ele leu seu manifesto na Sala Zur Meise (23 jul., 1918). E, finalmente, a Noite Dadá conseguiu reunir c. 1500 pessoas na Sala Zur Kaufleten. O evento foi organizado por Walter Serner, médico, escritor anarquista e performático; participaram Hans Richter, Hans Arp que pintou os cenários, além das alunas da Escola de Dança de Rudolf von Laban, como Sophie Taeuber (depois, Arp), Suzanne Perrotet, Mary Wigmann e Käthe Wulff, que dançaram. O artista sueco Viking Eggeling, proferiu palestra com o tema Gestaltung und Abstract Art. Foram apresentadas músicas de Erik Satie e Arnold Shoenberg; Tzara declamou seu poema simultâneo A Febre do Macho, com vinte vozes. Walter Serner realizou performance, enquanto leu seu manifesto A Última Perturbação [Letzte Lockerung]; cinco alunas de Rudolf von Laban dançaram Nor Kakadu. A noite encerrou o Dadaísmo em Zurique.
 

  
Francis Picabia ofereceu grande festa regada a champanhe no Hotel Elite, onde ele lançou o número especial de sua revista 391 (Zurique, 1918), Esta revista foi publicada nos locais que Picabia visitou, como Barcelona (1916), Nova York (1916-1917), Zurique (1918) e Paris (1919-1920). Encontram-se publicadas inúmeras fotografias como as de Ball e Emmy Hennings (Zurique, 1916); de Ball, envergando costume de Marcel Janco, recitando no palco do Cabaré Voltaire o poema Kara wane, de sua autoria. A fotografia original encontra-se no acervo da Kunsthaus, Zurique; a fotografia de Hennings, bela e elegante; a fotografia de Tzara, Arp e Richter (Zurique, 1917-1918); a fotografia de Arp com Sophie Taueber, que tornou-se sua esposa, junto com marionetes criadas por ela e usadas nas performances de seu teatro de marionetes (GOLDBERG, 1978; e RICHTER, 1993).


REFERÊNCIAS SELECIONADAS:
 

CATÁLOGO. ADES, D. Dada and Surrealism Reviewed. Introduction by David Syilvester and supplementary essay by Elizabetn Cowling. London: the Authors and the Art Council of Great Britain, Hayward Galleries, 1978,475p.: il., pp. 79-86,


BIRO, A.; PASSERON, R. Dictionaire Général du Surréalisme et ses environs. Fribourg: Office du livre - Presses Universitaires de France, 1982, p. 16.
 
BRITT, D.; MACKINTOSH, A.; NASH, J. M.; ADES, D.; EVERITT, A; WILSON, S.; LIVINSGSTONE, M. Modern Art: from Impressionism to Post-Modernism. London: Thames and Hudson, 1989, 416p.: il., p. 222.

GOLDBERG, R. Performance Art: from Futurism to the Present. London: Thames and Hudson, 978. 2001. 206p., il., some color. 15 x 21 cm (world of art), pp. 56-59, 60-67.
 
 

RICHTER, H. HAUPTMANN, W. (Post-Scriptum). Dada art & anti-art. Cologne: Du Mont Shauberg, 1964. 1965. 246p.: il., p.100.

Nenhum comentário:

Postar um comentário